sexta-feira, 24 de abril de 2009

Saudades

De tudo que eu não vivi, tenho saudades de muitas coisas.

Tenho saudades daquele verão na beira da praia, quando ainda era adolescente. Quando, passando os meses mais quentes do ano num dos lugares mais lindos que já vi, conheci pessoas que nunca mais encontrei, mas que na época parecia que eu não poderia viver um dia sem elas. Quando conheci um amor de verão que pensei ser para sempre mas vendo na rua dificilmente reconheço hoje. Quando dormi embaixo do sol depois daquela festa e fiquei dois dias sem conseguir me mover. Quando chorei durante uma semana quando as férias acabaram...

Tenho saudades da viagem que fiz com um grupo de amigos para uma cidadezinha do interior. Dos shows, das danças, dos muitos paqueras e de outro namoradinho passageiro. Esse eu não queria nem mais ver, mas encontro volta e meia na rua e nos falamos cordialmente. Do dinheiro arduamente economizado e reunido para comprar garrafas de licor. Da volta cansada e feliz para casa.

Tenho saudades das aulas de dança, de ballet, de natação, de mergulho, de rapel. De jogar bola na quadra.

Tenho saudades de matar aula na praia. De achar que não era assim tão importante estar sempre em todas as aulas no colégio.

Tenho saudades de sair escondida durante a noite para encontrar um outro namoradinho. De ficar fazendo joguinhos enquanto ele se declara com todas as frases que traduzia das músicas românticas dos Beatles.

Tenho saudades de tocar violão e de cantar.

Tenho saudades do namorado sério que prometia uma vida que não podia me dar. Que durante anos me ensinou coisas que eu não precisava saber, mas que aprendia com gosto. E que me deixou sem explicações e com o coração partido.

Tenho saudades de viajar sozinha ao redor do mundo, conhecendo lugares, pessoas e culturas diferentes. De depois de conhecer tudo isso perceber o quanto o meu lugar, as minhas pessoas e a minha cultura são queridas.

E tenho saudades ainda de voltar e perceber que tudo o que eu conhecia já não é mais como eu me lembrava. E de não me sentir mais como parte daquilo.

Tenho saudades de não saber mais quem eu sou ou o que fazer da minha vida. Saudades de ter saudades e querer voltar atrás.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sonhos

Há tempos não sei mais distinguir sonhos e realidade. Vivo em eterno torpor, um sonho real ou uma realidade fantástica. Tento em vão acordar, mas ele não deixa. O mundo dos sonhos me puxa de volta toda vez que me afasto dele por um segundo que seja. Não acho ruim, muito pelo contrário. Acho que nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Sinto tudo como se fosse tão real nos sonhos que não vejo nenhuma necessidade de torná-los mais reais do que já são. Por que pra mim são muito reais. Gostos, ruídos, perfumes, todas as sensações são tão intensas que não imagino mais vivê-las de outra forma.

Há alguns dias descobri mais uma coisa. Quase tenho medo de falar sobre isso. Não posso perder algo assim. Percebi que, apenas com a minha força de vontade, posso comandar os meus sonhos. Levá-los aonde desejar. Crio quase tudo o que eu quiser nos meus sonhos. Imagina só se você tivesse esse poder. Se você pudesse viver a sua vida da maneira que sempre sonhou. Eu descobri que eu posso. Eu posso tudo nos meus sonhos, eu crio, recrio e destruo o que eu quiser, como eu bem entender.

Parei então para me perguntar por que ainda tento, cada vez com menos vontade, voltar à minha vida real. Não tenho a mínima necessidade de viver nada além dos meus sonhos. Não quero que pensem que a loucura invadiu a minha mente. Muito pelo contrário. Nunca estive tão sã.

Estou te contando tudo isso por um só motivo: hoje deixo o mundo real por completo e me entrego aos meus sonhos. Ele me quer e me chama insistentemente. E eu o quero, por isso irei ao seu encontro sem demora.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Desejo (Desire)

Ninguém nunca entendeu direto aquela garota. Não falava com ninguém. Chegava sempre no melhor da festa e atraía todos os olhares. Não se sabe por que, nunca pegava uma fila pra nada. Os seguranças sempre a deixavam passar na frente de todo mundo. Ela olhava para trás e sorria. Um sorriso de canto de boca, sincero. Eles sempre deixavam ela entrar.

Assim que chegava ia direto pra bar. O barman já sabia o que ela ia pedir, por isso ela nem precisava pedir nada. Assim que ele a via entrando e, acreditem, todos viam quando ela entrava, ele começava a preparar seu drink. Uma mistura de tequila, vodca e curaçau com alguns morangos e bastante gelo. A bebida combinava com suas unhas, sempre vermelhas. Também ao barman ela lançava aquele olhar, aquele sorriso que deixava todos hipnotizados.

Não ia encontrar ninguém, não falava com ninguém. Não dava ousadia para nenhum homem que se aproximasse, e não eram poucos os que faziam isso. Dançava a noite inteira. De um jeito próprio, diferente das outras garotas.

As luzes pareciam iluminar apenas aquela criautra. Enquanto ela estava ali, a música parecia escolhida para ela. Ela era o centro das atenções de homens e mulheres. Passava horas dançando. Um sorriso de leve sempre iluminava o rosto.

Aí, de repente, ela deixava a pista. Não parecia cansada, estava revigorada. Ainda mais encantadora do que quando entrou. Ainda mais bela, mais deslumbrante. Saía como entrava, com todas as regalias e sem falar com ninguém. Depois que ela ia, ficava na lembrança como um sonho.