quinta-feira, 30 de março de 2017

Eu não quero o que é simples. Eu não quero o que é mais ou menos. Eu não quero o ordinário. Eu não quero o que chega fácil, o que não me tira da minha zona de conforto. Não quero o que não me desafia. Eu não quero o que é seguro nem o que está disponível. Eu não quero não ter que conquistar meus objetivos.

Eu quero o que é fora do normal. O que me tira do sério. O que me faz duvidar se é possível. O que parece inalcançável. Eu quero o extraordinário, o fantástico. Quero o que provoca, incita, faz pensar. Eu quero um dia diferente do outro. Eu quero novos estímulos, novas sensações. Quero absurdos. Quero aprender com meus erros e acertos. Eu quero tudo, quero muito e quero agora.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Final

Ela entrou no carro entorpecida ainda. Não entendia o que havia acontecido. Não tinha pensando muito no assunto, apenas saiu daquele lugar o mais rápido possível. Precisava disso. Depois parava pra pensar.

Ele disse que não era aquela a intensão quando começou a conversa. Nunca era a intenção dele magoar ela e ainda assim era o que ele sempre fazia. Ele tinha o dom de inventar desculpas e contar mentiras de uma maneira que ela sempre acreditava.

Ela acreditou de início, como sempre, mas tinha prometido para si mesma desde o ultimo problema que tiveram que nunca mais cairia na conversa dele. De alguma maneira a consciência dela veio a tona em meio aquelas explicações estapafúrdias e ela conseguiu sair do circulo vicioso que ele tanto se esforçava para mante-la.

Ele talvez acreditasse nas suas próprias mentiras. De tanto repeti-las elas de alguma maneira se tornavam verdades. Ele se via como uma vítima do destino e não como o autor daqueles absurdos. Talvez porque ele não conseguisse se livrar de tantos conceitos e preconceitos que havia cultivado por anos em sua vida.

Ela tinha uma necessidade tão grande de pertencer a alguém que não percebia o quanto se doava sem receber de volta. Na verdade, percebia sim, mas sua carência era maior que seu amor próprio. Triste, mas ela sabia que essa era a verdade. E que não havia nada que pudesse fazer para mudar isso. Então continuava a alimentar essas relações disfuncionais uma após a outra.

Ele se aproveitava da carência dela. Ele sabia que ela precisava de alguém e se sentia bem na posição de provedor de todas as seguranças daquela garota. Mas ele não conhecia ela tão bem quanto achava. E de repente ela começou a se rebelar da amarras que ele atou tão cuidadosamente. Não que ele fizesse isso de caso pensado, mas se parasse para analisar ia perceber a maldade em seus atos. Só que ele nunca parava para pensar.

Assim como ele, ela não parava pra pensar. Não parava pra analisar a sua posição naquela relação. Até outro dia. Era sempre assim. Ela não entendia por que se colocava naquela situação até estar sobrecarregada por toda a mágoa que havia sido cultivada nos últimos tempos. Como um copo enchendo até transbordar, e então já era tarde.

Ele percebeu que ela estava escapando e não soube o que fazer. O desespero de perder aquela garota fez com que ele precipitasse tudo. Que falasse o que não devia. Que fizesse o que não queria. E perdesse o que, sem saber, mais estimava.

Ela, por não impor seus limites na hora certa, também perdeu. Perdeu de novo por deixar seu medo da solidão levá-la novamente a solidão. Perdeu por não dar a chance dele ser diferente. Perdeu por não ensinar e por não aprender.


terça-feira, 14 de março de 2017

Há um ano os acontecimentos, de alguma maneira, levaram a um final surpreendente. Não sei explicar mas quando penso com calma não consigo deixar de achar que eu sabia, inconscientemente, do que estava para acontecer. Como se nós soubéssemos que ia acabar mal. Pra quem acredita em intuição, posso dizer que intuímos isso. Parece que o mundo estava avisando e que nós deveríamos fazer alguma coisa para aproveitar os últimos dias.

Eu sabia que não ia durar pra sempre desde o começo. Ia dizer que era bom demais pra ser verdade, mas não, não era. Era real demais. Tudo. Muito. Ao mesmo tempo. Intenso. 

Vendo de longe agora penso em muitas coisas que poderiam ter sido feitas e isso dói. Dói pq eu sei que nada disso é verdade e não havia nada a ser feito além do que realmente foi. Não existe como mudar o passado ou como prever o futuro. Isso também dói pq nós sempre temos muitas idéias de opções que, na verdade, não são opções. 

A cabeça roda e pensa e quer que a vida volte pra gente tentar de novo. Só mais uma vez, a gente pede. Por favor!!! Não, isso não vai acontecer. A gente sabe que não vai acontecer. Mas existe a fantasia, existe a esperança de mundos paralelos onde as coisas acontecem de outra maneira. E essa é mais uma maneira de se enganar e de tentar acalentar uma dor que não vai passar tão cedo. 

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Saudades

De tudo que eu não vivi, tenho saudades de muitas coisas.

Tenho saudades daquele verão na beira da praia, quando ainda era adolescente. Quando, passando os meses mais quentes do ano num dos lugares mais lindos que já vi, conheci pessoas que nunca mais encontrei, mas que na época parecia que eu não poderia viver um dia sem elas. Quando conheci um amor de verão que pensei ser para sempre mas vendo na rua dificilmente reconheço hoje. Quando dormi embaixo do sol depois daquela festa e fiquei dois dias sem conseguir me mover. Quando chorei durante uma semana quando as férias acabaram...

Tenho saudades da viagem que fiz com um grupo de amigos para uma cidadezinha do interior. Dos shows, das danças, dos muitos paqueras e de outro namoradinho passageiro. Esse eu não queria nem mais ver, mas encontro volta e meia na rua e nos falamos cordialmente. Do dinheiro arduamente economizado e reunido para comprar garrafas de licor. Da volta cansada e feliz para casa.

Tenho saudades das aulas de dança, de ballet, de natação, de mergulho, de rapel. De jogar bola na quadra.

Tenho saudades de matar aula na praia. De achar que não era assim tão importante estar sempre em todas as aulas no colégio.

Tenho saudades de sair escondida durante a noite para encontrar um outro namoradinho. De ficar fazendo joguinhos enquanto ele se declara com todas as frases que traduzia das músicas românticas dos Beatles.

Tenho saudades de tocar violão e de cantar.

Tenho saudades do namorado sério que prometia uma vida que não podia me dar. Que durante anos me ensinou coisas que eu não precisava saber, mas que aprendia com gosto. E que me deixou sem explicações e com o coração partido.

Tenho saudades de viajar sozinha ao redor do mundo, conhecendo lugares, pessoas e culturas diferentes. De depois de conhecer tudo isso perceber o quanto o meu lugar, as minhas pessoas e a minha cultura são queridas.

E tenho saudades ainda de voltar e perceber que tudo o que eu conhecia já não é mais como eu me lembrava. E de não me sentir mais como parte daquilo.

Tenho saudades de não saber mais quem eu sou ou o que fazer da minha vida. Saudades de ter saudades e querer voltar atrás.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sonhos

Há tempos não sei mais distinguir sonhos e realidade. Vivo em eterno torpor, um sonho real ou uma realidade fantástica. Tento em vão acordar, mas ele não deixa. O mundo dos sonhos me puxa de volta toda vez que me afasto dele por um segundo que seja. Não acho ruim, muito pelo contrário. Acho que nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Sinto tudo como se fosse tão real nos sonhos que não vejo nenhuma necessidade de torná-los mais reais do que já são. Por que pra mim são muito reais. Gostos, ruídos, perfumes, todas as sensações são tão intensas que não imagino mais vivê-las de outra forma.

Há alguns dias descobri mais uma coisa. Quase tenho medo de falar sobre isso. Não posso perder algo assim. Percebi que, apenas com a minha força de vontade, posso comandar os meus sonhos. Levá-los aonde desejar. Crio quase tudo o que eu quiser nos meus sonhos. Imagina só se você tivesse esse poder. Se você pudesse viver a sua vida da maneira que sempre sonhou. Eu descobri que eu posso. Eu posso tudo nos meus sonhos, eu crio, recrio e destruo o que eu quiser, como eu bem entender.

Parei então para me perguntar por que ainda tento, cada vez com menos vontade, voltar à minha vida real. Não tenho a mínima necessidade de viver nada além dos meus sonhos. Não quero que pensem que a loucura invadiu a minha mente. Muito pelo contrário. Nunca estive tão sã.

Estou te contando tudo isso por um só motivo: hoje deixo o mundo real por completo e me entrego aos meus sonhos. Ele me quer e me chama insistentemente. E eu o quero, por isso irei ao seu encontro sem demora.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Desejo (Desire)

Ninguém nunca entendeu direto aquela garota. Não falava com ninguém. Chegava sempre no melhor da festa e atraía todos os olhares. Não se sabe por que, nunca pegava uma fila pra nada. Os seguranças sempre a deixavam passar na frente de todo mundo. Ela olhava para trás e sorria. Um sorriso de canto de boca, sincero. Eles sempre deixavam ela entrar.

Assim que chegava ia direto pra bar. O barman já sabia o que ela ia pedir, por isso ela nem precisava pedir nada. Assim que ele a via entrando e, acreditem, todos viam quando ela entrava, ele começava a preparar seu drink. Uma mistura de tequila, vodca e curaçau com alguns morangos e bastante gelo. A bebida combinava com suas unhas, sempre vermelhas. Também ao barman ela lançava aquele olhar, aquele sorriso que deixava todos hipnotizados.

Não ia encontrar ninguém, não falava com ninguém. Não dava ousadia para nenhum homem que se aproximasse, e não eram poucos os que faziam isso. Dançava a noite inteira. De um jeito próprio, diferente das outras garotas.

As luzes pareciam iluminar apenas aquela criautra. Enquanto ela estava ali, a música parecia escolhida para ela. Ela era o centro das atenções de homens e mulheres. Passava horas dançando. Um sorriso de leve sempre iluminava o rosto.

Aí, de repente, ela deixava a pista. Não parecia cansada, estava revigorada. Ainda mais encantadora do que quando entrou. Ainda mais bela, mais deslumbrante. Saía como entrava, com todas as regalias e sem falar com ninguém. Depois que ela ia, ficava na lembrança como um sonho.