Ela entrou no carro entorpecida ainda. Não entendia o que havia acontecido. Não tinha pensando muito no assunto, apenas saiu daquele lugar o mais rápido possível. Precisava disso. Depois parava pra pensar.
Ele disse que não era aquela a intensão quando começou a conversa. Nunca era a intenção dele magoar ela e ainda assim era o que ele sempre fazia. Ele tinha o dom de inventar desculpas e contar mentiras de uma maneira que ela sempre acreditava.
Ela acreditou de início, como sempre, mas tinha prometido para si mesma desde o ultimo problema que tiveram que nunca mais cairia na conversa dele. De alguma maneira a consciência dela veio a tona em meio aquelas explicações estapafúrdias e ela conseguiu sair do circulo vicioso que ele tanto se esforçava para mante-la.
Ele talvez acreditasse nas suas próprias mentiras. De tanto repeti-las elas de alguma maneira se tornavam verdades. Ele se via como uma vítima do destino e não como o autor daqueles absurdos. Talvez porque ele não conseguisse se livrar de tantos conceitos e preconceitos que havia cultivado por anos em sua vida.
Ela tinha uma necessidade tão grande de pertencer a alguém que não percebia o quanto se doava sem receber de volta. Na verdade, percebia sim, mas sua carência era maior que seu amor próprio. Triste, mas ela sabia que essa era a verdade. E que não havia nada que pudesse fazer para mudar isso. Então continuava a alimentar essas relações disfuncionais uma após a outra.
Ele se aproveitava da carência dela. Ele sabia que ela precisava de alguém e se sentia bem na posição de provedor de todas as seguranças daquela garota. Mas ele não conhecia ela tão bem quanto achava. E de repente ela começou a se rebelar da amarras que ele atou tão cuidadosamente. Não que ele fizesse isso de caso pensado, mas se parasse para analisar ia perceber a maldade em seus atos. Só que ele nunca parava para pensar.
Assim como ele, ela não parava pra pensar. Não parava pra analisar a sua posição naquela relação. Até outro dia. Era sempre assim. Ela não entendia por que se colocava naquela situação até estar sobrecarregada por toda a mágoa que havia sido cultivada nos últimos tempos. Como um copo enchendo até transbordar, e então já era tarde.
Ele percebeu que ela estava escapando e não soube o que fazer. O desespero de perder aquela garota fez com que ele precipitasse tudo. Que falasse o que não devia. Que fizesse o que não queria. E perdesse o que, sem saber, mais estimava.
Ela, por não impor seus limites na hora certa, também perdeu. Perdeu de novo por deixar seu medo da solidão levá-la novamente a solidão. Perdeu por não dar a chance dele ser diferente. Perdeu por não ensinar e por não aprender.
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